No final do ano de 2014, a Amazon iniciou a venda de livros físicos no Brasil, a grande percursora da leitura digital com seu Leitor Kindle, se rendeu a venda de livros impressos. A nova loja conta com mais de 150 mil livros em português, além de preços baixos e frete grátis nas compras de R$ 69,00. Diante disso resolvi escrever este artigo sobre as muitas afirmações que rodam nos sites especializados, jornais e revistas, de que o livro impresso irá desaparecer, uma hipocrisia na minha opinião.
O avanço da tecnologia proporciona recursos inovadores para hábitos antigos, um desses recursos são os livros digitais, são práticos, podem ser lidos nos smartphones, em leitores digitais (Kindle, Kobo, Lev) e podem ser levados para todos os lugares. Tudo bem que o livro digital tem seus benefícios, mas não substituirá o livro impresso e a mesma coisa que dizer que a invenção da roda foi desnecessária.
Outra questão importante é a qualidade da leitura, através dos leitores digitais podemos ter centenas de livros, dos mais variados gêneros, mas será que teremos tempo de ler tudo, de maneira produtiva. Hoje vivemos a era da informação, precisamos lidar com um excesso de informação, onde temos pouco tempo para parar, refletir e ler um bom livro (experiência própria). As redes sociais e a cultura do 140 caracteres estão fazendo com que as pessoas leem menos e sem qualidade, tudo tem seus benefícios, mas deve haver um equilíbrio, pois caso contrário seremos robôs a serviço da mídia e das novas tecnologias.
Umberto Eco, grande escritor Italiano, ao ser questionado pelo Jornal Estadão, em uma entrevista sobre o futuro do livro impresso, afirmou:
O livro não está condenado, como apregoam os adoradores das novas tecnologias?
O desaparecimento do livro é uma obsessão de jornalistas, que me perguntam isso há 15 anos. Mesmo eu tendo escrito um artigo sobre o tema, continua o questionamento. O livro, para mim, é como uma colher, um machado, uma tesoura, esse tipo de objeto que, uma vez inventado, não muda jamais. Continua o mesmo e é difícil de ser substituído. O livro ainda é o meio mais fácil de original em papel, como medida de segurança.
Um dos criadores do Kindle – Jason Merkoski, em entrevista, que veio ao Brasil para participar do 5º Congresso Internacional CBL do Livro Digital, em seu livro ‘Burning the page: The eBook Revolution and the Future of Reading” (ainda sem título em português), afirma que o livro impresso vai morrer, que será substituído pelos e-readers e smartphones. Esta visão é bem futurista, acho que o livro digital vai ganhar mercado sim, mas junto com o livro impresso.
Outro detalhe, o preço do livro digital no Brasil é um absurdo, poderia ser mais barato para evitar a pirataria, é inadmissível um livro digital ser o mesmo preço ou até mais caro que o livro físico. Sabemos que nos Estados Unidos a venda dos livros digitais está crescendo, além do preço ser mais justo.
Fico espantado com afirmações de pessoas, que dizem que o livro físico irá morrer, digo isso por tenho um enorme prazer de frequentar livrarias, tocar, folhear e sentir um livro, coisa que um livro digital nunca proporcionará, mesmo tentando imitar. Mesmo sendo aficionado por tecnologia e trabalhar com projetos de digitalização e GED no setor público, acredito que os livros impressos continuarão fascinando as pessoas, o digital (hardware) tem vida útil, já o impresso pode ser fonte de pesquisa para gerações e mais gerações.
Na minha opinião os dois modelos devem fluir paralelamente, onde um completa o outro, digo isso pois uso um modo de leitura na qual leio pelo livro físico e quando viajo ou estou em locais onde não posso levar o livro, continuo a leitura através do livro digital, uma forma de não parar a leitura e ganhar tempo.
O livro digital tem seus benefícios, compra e recebe em tempo real, possibilita o compartilhamento de conteúdo, interatividade e uma infinidade de títulos, mas ainda afirmo que a melhor maneira de ler é por meio do livro impresso, com marca página, dedicatórias, enfim uma leitura de qualidade e não quantidade.
Antes de tudo, é preciso incentivo à leitura, a busca pelo conhecimento, o Brasil é um país de poucos leitores, é preciso mudar isso, seja no livro impresso ou no digital, o que importa é a qualidade da leitura e conhecimento adquirido. É quem foi que disse que o livro digital vai substituir o impresso, está enganado!
Segundo informações do Jornal Folha de São Paulo (09/04/2016), as vendas de E-books caíram cerca de 11% em 2015, em relação ao mesmoperíodo de 2014. A indústria brasileira de impressão de livros já não teme que a leitura digital leve grande parte de seus consumidores, como ocorreu no mercado de música. Um dos motivos são os sinais de estagnação que a venda de livros digitais já dá nos Estados Unidos e na Europa, mais detalhes aqui.
Livros sobre o tema:
A questão dos livros – passado, presente e futuro (Companhia das Letras, 168 páginas, R$ 42,50), do professor amricano Robert Darnton
Não contem com o fim dos livros (Record, 272 páginas, R$ 39,90, conversas de Umberto Eco, Jean-Claude Carrière e Jean –Philippe de Tonnac.
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